27 de fevereiro de 2008

síndrome de estocolmo

se deixar seqüestrar diariamente é uma arte.
numa conversa de bar, ouvi um professor doutor dizer o seguinte:

"o bom da vida é o que não controlamos! isso não quer dizer que devamos nos entregar a porralouquice (ou seria porraloucura?) simplesmente; devemos, todos os dias, nos preparar para o arrebatamento do extraordinário. viver uma rotina, muitas vezes, também é extraordinário. não sou hedonista, sou sincero. sou tudo o que li, tudo o que vi e tudo o que vivi até este exato segundo. não podem dizer que não me preparei pra viver o que vivo agora, mas também não podem esperar que eu sempre decida ou reaja de uma maneira comedida; por mais que eu esteja preparado, simulações não chegam perto do real." (doutor apud raquel, livremente adaptado)

essa conversa mexeu comigo. desde então, tento não racionalizar tanto as coisas. por isso, quando os amigos chamam, eu sempre vou. são os "seqüestros relâmpagos em terra que não chove". conheço meus captores, até já conheço os cativeiros, mas destas noites não prevejo mais nada, além das fatais gargalhadas.

agora saio sempre preparada. sexta passada não era pra eu ser abduzida, mas algo no meu íntimo dizia que eu me preparasse. a equipe de baitolinhas aumentou, foi morto de animado. o problema foi: me deixaram ao lado do palco, e o vocalista da banda era esquizofrênico-performático, e eu não conseguia nem olhar pra ele sem querer cair na gargalhada! o problema é que eu fico com remorso... então eu fiquei com uma cara estranha, querendo rir sem poder, de costas pra banda, quase uma lagartixa virada pra parede, e os baitolas que estavam comigo se acabando de rir da minha cara! enfim; tudo melhorou quando mudamos de mesa, apesar de ter tocado November Rain... impossível eu não pedir uma cerveja. aos que não me conhecem, há milênios não bebo. aos que me conhecem, foi necessário!

Sometimes I need some time...on my own
Sometimes I need some time...all alone
Everybody needs some time...on their own
Don't you know you need some time...all alone

e os seqüestros não acontecem em grupo apenas. às vezes eu me seqüestro de mim mesma, da rotina a que eu passaria. terça-feira me deixei andar, até que cheguei a um sebo que gosto muito. passei horas olhando, olhando, até que este livro gritou pra que eu o comprasse: "como água para chocolate" - Laura Esquivel. eu quis argumentar que não tinha tempo para lê-lo agora, e mesmo se tivesse, tinha uma penca de livros para ler antes, mas nada surtiu o menor efeito. ficou aquela voz na minha cabeça dizendo que, se eu tinha ido até ali, tinha olhado incontáveis livros e tinha achado esse, não cabia a mim negar a decisão do próprio livro de ser meu.

resignei-me, como boa escrava-mental de mim mesma. ganhei, pela audácia de ter duvidado, uma crise alérgica. mas não tem nada não: vale a pena.

Um comentário:

Marília disse...

tô aqui atrasadíssima para a aula e leio um negócio desse... caramba! que maravilhoso, raquel.

que sacada!
que genial!

vou correr e ficar pensando isso num acolhedor paranjana! :D

bjos.