25 de março de 2008

alive!

sim, a despeito do que eu mesma cogitei durante um tempo, estou aqui. por esta frase já se vê que será um post filosófico/reflexivo. desculpem-me os que não têm saco para eles, mas eu também sou isto aqui: os bons e os maus momentos... sem juízo de valor, nem classifico este post como um mau momento, mas simplesmente um relato.

há dois meses escrevi, diária e sofregamente 96 páginas de um caderninho cuja capa estampava (de fábrica) a palavra RESPEITO. foi realmente uma experiência, e das mais engrandecedoras! todos os anos, em dezembro, eu paquerava agendas, que, com entusiasmo febril, escrevia 2 páginas e ela já deixava de ser novidade e ficava jogada num canto qualquer...

com este caderno me propus a me acompanhar neste processo. coloquei tudo pra fora, me expus. havia uma fragilidade palpável entre eu me entregar às páginas e o medo de que alguém pudesse me ver daquela forma, como ninguém nunca viu e que provavelmente ninguém verá.

é incrível que, mesmo quando a gente acha que estagnou, e que o tempo se arrastava, aos poucos eu me via uma pessoa diferente. escrever diária e especificamente sobre o que se sente, e não sobre tresloucamentos que só dizem de nós o que queremos que digam, nos faz perceber como reagimos a uma crise, e como somos mais fortes do que sempre pensamos.

foram 2 meses escrevendo. e estou aqui, inteira, apesar de ter duvidado algumas vezes de isso ser possível. e devo isso a muitos fatores, a muitos grandes atos e a muitos pequenos também!

aos amigos, aos seqüestros, às luas, às conversas, às risadas, aos ouvidos, às segundas do bem, aos que moram longe mas estão dentro do coração, à oportunidade de desabafar para quem merecia ouvir, aos filmes que me abriram a mente, aos livros que me alimentaram, à musica, amiga de todas as horas, muito obrigada!

e agora? o papel do caderno foi cumprido. eu não podia mais me esconder nele, achar que não estava pronta ou algo do gênero. a hora é de mudanças, e sei disso há tempos... e a ajuda deste diário ia se tornar uma dependência caso eu não me desfizesse dele.

durante muito tempo, me vi queimando estas páginas. mas ontem, quando reli tudo, vi que o fogo seria falso; seria como se eu meramente apagasse e destruísse tudo aquilo. resolvi que o sentimento encerrado nestas páginas merecia ser decomposto, passar por um processo lento antes de desaparecer... assim como o que sobrou em mim destes dias tem que se acomodar na pessoa que sou hoje. por isso, rasguei página por página ouvindo beatles, chorando o que eu já devia ter chorado há muito tempo, e levei estas "cinzas" para jogar no mais simbólico dos mares...

life is very short and there's no time
for fussing and fighting, my friend

p.s. Isabel, muito obrigada pelo apoio sempre. a idéia do caderno foi sua, e eu nunca vou poder agradecer o suficiente!

4 comentários:

Antonio Souza disse...

Ufa! Finalmente a quarentena acabou! Mas o aprendizado e o engrandecimento ficaram, e é isso o que importa.

Admiro muito esse teu modo de viver intensamente e ritualmente momentos importantes da tua vida; sem dar tanta importância ao julgamento de terceiros, que podem achar esses rituais atos de puro exagero.

É isso aí! Como diria uma peculiar professora de teclado (não exatamente desse modo): "hoje eu admiro gente assim: que se lança; que dá a cara à tapa".

Desculpa pela loucura dessa terça, tu me falaste rapidamente sobre o desfecho do caderninho e eu nem tive o discernimento para dar a atenção que este acontecimento merecia. A porcaria desse cotidiano louco nos rouba de nos mesmo e de coisas valiosíssimas das nossas vidas. É preciso aprender a administrar melhor nossos papeis nessa história maluca da arte de viver o dia-a-dia.

Que outras lindas, emocionantes e empolgantes histórias possam ser escritas no teu livro da vida.

Abração!

Até logo!

ra9uel disse...

só uma ressalva: e quem disse que o puro exagero não faz parte do que somos? como diz a Alê, tem momentos que precisamos esticar até o pau da baladeira pra nos encontrarmos... :)
brigada, beibe, por sempre!!!

isabel disse...

[ainda arrebatada e jogada contra a parede pela crua e visceral veemência das tuas palavras]:

que outra forma de reagir senão divivindo lágrimas cúmplices, distantes e genuínas.

mulher, tu és grande!

e é maravilhoso ver como recebes as tuas novas sementes e lhes dás tempo para germinarem em todas a sua plenitude.

a maior virtude é fazer nascer a mais primária das consciências da mais inevitável das constatadas torturas: o tempo.

escandalosa e arrebatadamente: admiro-te até à colossal queda da eternidade.

[ainda suspensa e a pairar na firmeza desta nua e poderosa revelação]

isabel disse...

p.s. (como eu adoro p.s.'s!!!):

o mais curioso é que acabava de te escrever... espreitei para matar saudades e... zás!!!

um dia, ainda morro do coração...

=*)